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Rebelião antirracista nos EUA deve servir de exemplo para a luta contra o facismo

Desde a última semana, grandes protestos contra a opressão da população negra têm sido registrados em diversos locais dos EUA, após a morte de um homem negro em um episódio de violência policial arbitrária

Publicado: 03 Junho, 2020 - 08h54

Escrito por: Elara Leite

Divulgação
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Desde a última semana, grandes protestos contra a opressão da população negra têm sido registrados em diversos locais dos EUA, após a morte de um homem negro em um episódio de violência policial arbitrária e desproporcional exposto nas redes sociais. O movimento Black Lives Matter, que já vinha recebendo adesões de norte-americanos contra o racismo, tomou novas proporções após o caso.

Conforme o secretário de combate ao racismo da CUT-PB, Clodoaldo Gomes, as manifestações nos Estados Unidos são um reflexo da insatisfação contra o racismo estrutural acumulada por décadas no país. Para ele, o racismo nos EUA, apesar de mais explícito, é muito similar ao do Brasil, com exceção de que em nosso país, se esconde por trás de uma falsa sensação de democracia racial.

“Essas manifestações servem de exemplo para o povo brasileiro no momento de enfrentamento ao golpe fascista do presidente Jair Bolsonaro, um governo autoritário e racista como é típico da elite brasileira. É um momento em que precisamos de unidade popular. A maioria de nosso povo que está indignado com o governo precisa se levantar, se indignar e exigir o Fora Bolsonaro”, comentou.

O secretário acrescentou ainda que o exemplo de unidade racial nos EUA não é apenas dos negros do país, mas também integra pessoas brancas que não concordam com o racismo e com a opressão, demonstrando solidariedade à população negra que vem sendo massacrada em sucessivos episódios de violência policial desproporcional. Nos EUA, cerca de 60% da população é branca, de acordo com o Censo daquele país em 2018 .

“Precisamos ir nesse sentido, ter uma grande unidade popular, que contemple todas as raças, todo o conjunto da classe trabalhadora e das demais camadas da sociedade com a juventude se unindo numa única voz, numa unidade de raça, de gênero, de todo o povo oprimido por esse governo racista e ultraliberal para exigir o Fora Bolsonaro e impedir o avanço do fascismo no nosso país. É um exemplo de luta, de mobilização e a importância da mobilização dos negros contra a discriminação e opressão do Estado. Deve servir de exemplo para a população do Brasil onde os negros são a maioria da população e não podem continuar aceitando esse descaso”, conclamou.

No Brasil, desde a última semana, manifestantes têm ido às ruas se contrapor às manifestações bolsonaristas e levantar as bandeiras da democracia. Na segunda-feira (1º/06), ato em Curitiba protestou contra o racismo, reunindo mais de mil pessoas. A manifestação foi reprimida duramente por policiais armados.

De acordo com o IBGE, a população negra é a maior vítima de homicídios no Brasil. Entre 2012 e 2017, 255 mil negros foram assassinados no país. Conforme a 13ª edição do Anuário da Violência, 75% das pessoas mortas por policiais são negros. E esse número não se concentra apenas nos adultos. Só em 2019, seis crianças negras morreram no Rio de Janeiro durante ações policiais. Desde 2007 esse tipo de ação já matou 62 crianças moradoras de comunidades.

“Se for com um branco rico, é inocente até que prove o contrário. Se for com um negro pobre, é criminoso até que se prove o contrário”, lamentou Clodoaldo sobre a violência policial contra negros.

Questão é de classe

Para Clodoaldo, secretário de combate ao racismo da CUT-PB, é preciso compreender que a questão do racismo é de classe, principalmente no Brasil. “A oposição principal é entre ricos e pobres, entre a classe trabalhadora e a elite. A maioria da classe trabalhadora historicamente é negra, tanto no passado, como na escravidão tradicional, como na escravidão atual, assalariada, por isso sofre duplamente a opressão e exploração dos trabalhadores do presente e do passado escravagista do Brasil”, ressaltou.

Ele também chamou atenção para a questão indigenista, que para ele precisa ser urgentemente retomada ao debate. “Temos um genocídio histórico da população indígena que tem se agravado mais ainda com o governo Bolsonaro que praticamente extermina a população indígena. Precisamos ter a visão para essa raça e outros segmentos sociais como ciganos e grupos minoritários”, concluiu.