Escrito por: Elara Leite
Retratado nos livros de história como data comemorativa da abolição da escravatura, o dia 13 de maio não é reconhecido pelo movimento negro como um momento de celebração, mas de reflexão
Retratado nos livros de história como data comemorativa da abolição da escravatura, o dia 13 de maio não é reconhecido pelo movimento negro como um momento de celebração, mas de reflexão, conforme afirma o secretário de igualdade racial da CUT-PB, Clodoaldo Gomes.
A data remonta à assinatura da Lei Áurea, que extinguiu formalmente a escravidão no Brasil. No entanto, Clodoaldo lembra que a escravidão tradicional “foi substituída pela escravidão assalariada que condena milhões de trabalhadores das mais diferentes raças à superexploração que tem sido cada vez mais forte”.
Para Clodoaldo, nos últimos anos houve um processo de aprofundamento da precarização das condições de trabalho que é muito mais realçada para os descendentes dos antigos escravos, isto é, do povo negro. “Nós temos os piores empregos, as piores condições de trabalho, as piores condições de moradia, porque a escravidão foi extinta mas a sociedade brasileira, as classes dominantes não tiveram a menor preocupação em garantir um processo que pudesse dar condições dignas de inserção no mercado de trabalho”, afirmou.
Com a pandemia, é possível observar que a situação torna-se ainda pior. Levantamento publicado pela Agência Pública de Jornalismo Investigativo aponta que o número de mortes de pacientes negros por COVID já passa de 900. E que o número de brasileiros negros internados com o vírus aumentou 5,5 vezes nas semanas de 11 a 26 de abril.
“Vemos que a doença que começou atacando principalmente a classe média, hoje cresce e se expande pela periferia onde a maioria dos moradores são negros e estamos tendo um aumento muito grande do número de infectados entre essa população do que entre brancos. Os negros são a maioria da nossa população com as piores condições de moradia e de vida que é um fator social que reflete muito no índice de mortes”, ressaltou.
O secretário de igualdade racial da CUT-PB alerta que não é somente a idade que influencia e põe as pessoas no grupo de risco, mas as condições de saúde, acesso à assistência, aspectos sociais como condições de moradia digna, boa alimentação para melhorar a imunidade, o que é negado à maioria do povo pobre, que é negro.
“A causa da pobreza da maioria da população negra é legado da escravidão e do abandono à própria sorte dos negros que foram libertados através da lei áurea. Para que haja uma verdadeira libertação é necessário que nós reconheçamos a nossa dívida histórica com a população negra, que combatamos o racismo e que toda a classe trabalhadora se una em sua diversidade racial e de gênero para a superação do capitalismo, da escravidão moderna, a escravidão assalariada, na perspectiva da conquista de uma sociedade socialista”, concluiu o secretário.